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A linhagem genealógica da arte do Drag no Açores é uma linha pouco legível e muito difícil de traçar: a Tia Maria do Nordeste é uma familiar ausente, a subversão de papéis de género é muitas vezes uma punchline carnavalesca e por isso, Valdemar Creador (da manhã, algures pela Ribeira Grande) / Valley Dation (à noite, algures pelo Trumps) tem aberto portas e montado tapetes, por esta ilha fora, no que toca a Drag Shows. Em 2022, Valley Dation desconstruiu o conceito de princesa, ao som de Paco Piri-Piri, no Estúdio 13 em contexto de Mini Tremor. Valdemar contou-nos como correu “A Valley das Sete Cidades”:
«Eu lembro-me de, por exemplo, uma das crianças dizer-me ao ouvido “Eu sei que isso é uma peruca e tu és um menino.” como se ele tivesse descoberto a pólvora. Lembro-me também de que havia uma menina deslumbrada pela minha personagem e quando acabou o espectáculo e eu já estava sem peruca a pensar que toda a gente já tinha saído, volto-me para trás e vejo a miúda boquiaberta. (Eu queria desconstruir papéis de gênero e acabei por desconstruir demasiado.) Até havia um miúdo no espectáculo que tinha decidido implicar comigo - tudo o que eu perguntava, ele respondia que não ou que não gostava - mas que depois no final do espectáculo veio dar-me um abraço. O drag que faço na ilha é sempre conjugado com comédia. Tu tens de saber fazer as coisas. Foi uma educação assim mais alegre e divertida.»