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Durante o processo de recolha das histórias que trilharam o caminho até esta décima edição do festival, deparamo-nos com uma inquietação recorrente sobre um determinado evento: “Vocês não vão falar sobre a queda do filho do Kitas, pois não?”. Esta história, indiscutivelmente a mais pesada de todo este acervo, só está aqui por uma série de motivos: primeiro, felizmente tudo acabou bem e o rebento do Luís “Kitas” Banrezes continua de ótima saúde; segundo, existem ao longo deste arquivo outros tantos exemplos de memórias felizes em torno do Mini-Tremor (o segmento do festival dedicado à formação de novíssimos festivaleiros) que irão servir de exemplo para contrabalançar esta tragédia; e terceiro, a história foi apresentada pelo próprio Kitas, com uma honestidade e crueza que não incluí-la aqui seria uma desconsideração pela sua partilha.
«Um dos primeiros Mini-Tremor foi numa casa antiga, com gradeamentos altíssimos por onde nunca nos passaria pela cabeça que uma criança conseguisse atravessar. Naquela altura, tínhamos comprado um aparelho que lançava bolas de sabão e que foi colocado no segundo andar da casa a apontar para o piso de baixo. Ou seja, as crianças que iam assistir ao concerto, ao entrar na casa, passavam por entre uma cascata de bolinhas de sabão. O meu miúdo já tinha visto isso lá por casa e já sabia como é que a máquina funcionava. O problema é que, durante o concerto, mal viu o aparelho ligado, foi logo atrás dele. E quando sobe para o segundo andar onde estava a máquina, tenta ir atrás das bolas de sabão e cai de cabeça numa escadaria de basalto. Ficou lá estendido. Quando me deram a notícia, não disseram logo o que se tinha passado, mas lembro-me perfeitamente do Márcio (Laranjeira) agarrar-me e dizer: “Tem calma, tem calma!”. Calma ninguém tem nestas situações, foi horroroso. Foi horroroso tudo o que aconteceu. Estive com o meu miúdo nos braços sem respirar, já a entrar em paragem cardíaca. Felizmente, ele recuperou e está ótimo! E hoje penso que é daquelas sortes disfarçadas: foi trágico, mas se não fosse com ele, se fosse com outra criança qualquer, talvez já não houvesse Tremor hoje em dia.»