Algures pelos calabouços dos arquivos de histórias deste festival, ficaram guardados mais dois ou três episódios de festivaleiros locais que também se perderam por entre os cerca de oito quilómetros de conteiras e de grutas que compõem o Trilho da Janela do Inferno. Portanto, não nos cabe a nós julgar o sentido de orientação de um artista talvez bastante mais habituado a arrastar sintetizadores por espaços noturnos nos Países Baixos. Foi Márcio Laranjeira (programador e co-fundador do festival) que contou-nos esta história sobre o músico Jacco Gardner no primeiro Tremor Todo-o-Terreno (2017):

«O primeiro trilho que fizemos foi o da Janela do Inferno. E o Jacco Gardner tinha um telemóvel muito velho que quase nunca tinha rede. Ele tinha pedido para explorar o trilho sozinho e, por isso, combinámos que passado uma hora ele daria um toque e eu ia buscá-lo ao ponto de encontro. Chegou a hora, e ele não me dizia nada. Ligava-lhe e ele não atendia. Comecei a logo pensar: “Ele perdeu-se. O gajo perdeu-se!”. Lá decidi ir para o trilho e andei por lá que nem um pai atrás de uma criança num supermercado aos gritos: “Jacco! Jacco!”. Comecei a ficar preocupado. Ele podia ter caído ou ter tropeçado, cheguei a duvidar se o iria encontrar. De repente, a meio do trilho, encontro-o sentadinho, tranquilíssimo, e diz-me: “Olha, perdi-me. Mas sabia que o melhor que tinha a fazer era ficar aqui quieto até que alguém me encontrasse”. Então, pelo que percebi, ele ficou cerca de uma hora e meia ali quietinho, sentado numa rocha, até o encontrar.»