Back
Back
Tendo, a muito custo, deixado a posição de programador do festival para dedicar-se à tarefa hercúlea de conceber a candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura 2027, o saudoso António Pedro Lopes (o co-fundador ponta-delgadense e programador do Tremor entre 2014 e 2020) foi descrito, unanimemente, pelos outros três membros da mesa, como sendo o programador que pescava “o peixe mais difícil de vender”. Mal Devisa (Tremor 2018), a aterradoramente crua e honesta poeta de Massachusetts, é a prova de que, por vezes, as melhores refeições sonoras são cozinhadas com peixe fora do cardápio.
«Foi muito difícil chegar a acordo com uma artista como a Mal Devisa, que tocou na Igreja do Colégio. Ela era muito difícil de contactar, nunca ninguém a tinha visto ao vivo. Só tínhamos ouvido um disco dela, altamente celebrado. Era uma artista sem manager, a pessoa de contacto era a mãe, e a comunicação era desafiante. Chegou ao ponto de nós não sabermos se o concerto ia mesmo acontecer. Foi tudo difícil. Mas depois, quando aconteceu, foram uns rápidos 25 minutos — deve ter sido um dos concertos mais curtos que aconteceram neste festival — mas foi como se uma bomba tivesse caído ali. Era baba e ranho, tal era o poder do baixo, da estranheza, da figura da artista. Depois de tudo isto, para além de todas as pessoas que estavam ali e que nunca mais se esqueceram daquele momento, a recompensa foi ver a foto da Mal Devisa, durante a sua atuação na igreja, como imagem de destaque num artigo que o jornal Público fez sobre o festival, com o título: “O Tremor foi uma história feliz e quer contaminar o resto do ano.”»